domingo, 18 de agosto de 2013

ARQUERIA – UMA SAGA

ARQUERIA – UMA SAGA

Quem dentre nós que gostamos da vida ao ar livre, que frequentamos a roça e andamos de pé no chão, que caçamos de estilingues, bodoques, arapucas e laços, não brincou ‘ de indio’ e não fez pequenos arcos na infância? Eu fiz isso tudo – e continuo fazendo.
Sou atirador, caçador, fraco pescador (pois não tenho paciência), mas adoro andar pelos campos e matas, beiras de rios e lagoas desde muito cedo. Tudo o que se relaciona à vida ao ar livre me atrai. Escolhi uma profissão que me aproximasse da Natureza – que pudesse estuda-la e penetrar nos seus segredos, entender suas entranhas (ou tentar) e dai extrapolar esses conhecimentos ao cotidiano nosso de cada dia.
Sempre me interessei por arqueria – a arte de jogar flechas (Ars Sagittariorun) – todavia raramente tinha chance de me aproximar/empunhar um arco. Das poucas vezes, como principiante, encantavam-me os compostos cheios de parafusos e rodinhas – alta tecnologia aplicada. Todavia, a despeito do encanto nunca pretendi adquirir um.
Instintivamente  atraiam-me os arcos singelos, recurvos, longbows, mongóis etc – fascina-me a historia do grande Khan, que conquistou o mundo do lombo de um cavalo e por cauda de uns arquinhos de chifre – mas que magica envolve tais arcos? Sem estes arcos jamais aquele Khan teria logrado êxito.
Há poucos anos, pela mão do meu amigo Jorge Wiendel, adentrei o mundo da arqueria primitiva e seus segredos. Comprei os livros Bible of Bowyers I e II – e passei mais de uma ano estudando-os. Eu os li algumas vezes e ainda os leio sempre para fortalecer pontos teóricos.
É uma obra rara – esta absolutamente tudo ali dentro. Descobri que há mais de 15 000 anos, já se usavam técnicas, cujos resultados até hoje são aplicáveis e uteis – muitas delas são tão clássicas que são insubstituives.
A teoria aplicada e envolvido na facção de um arco primitivo, o detalhe de cada detalhe, a sutileza da observação continuada, acumulo de conhecimentos sutis sobre materiais e técnicas, sobre madeiras  e seus usos, materiais auxiliares, colas tão antigas quanto uteis e insuperáveis na qualidade e resistência, adaptação e desenvolvimento de ferramentas rudimentares (a inicio) que evoluíram para algo muito especializado – mesmo com as atuais ferramentas e materiais, recurso infinitos, uso intensivo de sintéticos de alta resistencia etc – ainda nossos Ancestrais não foram superados.
Jogar flechas de arcos cheios de rodinhas e engenharia é um mero ato de arremessar um projetil com precisão – e como são precisos.
Fazer o mesmo, com arcos feitos nas mais ancestrais e antigas técnicas, obtendo os mesmo resultados – é uma arte: por isso adotei o nome Ars Sagittariorun:a Arte de fazer as flechas voarem .
Percebi que são dois mundos interdigitados totalmente distintos, a despeito de interdependentes. Os Arcos e as Flechas – dois Universos de artes que se transfiguram em algo sutil e sublime quando juntas – foram feitas para serem usadas juntas – tais como os alimentos e as panelas, na Arte Culinária. Como atirador, já estudei muito sobre projeteis, pólvoras, pressões, distancias, velocidades, capacidade de destruição etc etc...
De forma bastante diferente – a Arqueria é a mesma coisa, tão profunda quanto e tão detalhista quanto – tão mortal quanto!
Confeccionei meu primeiro arco, de uma sobra de madeira que trouxera de Capelinha (MG) – presente do amigo Nonô Pavie – ali conhecida como pereira. Eu ainda o tenho – todo torto, devido aos detalhes da madeira, que desconhecia e da inexperiência do artesão.
A primeira intenção – além do experimento - também estava (e esta) no fato de ser muito simples a qualquer pessoa com um pouco de habilidades manuais, fabricar um arco, algumas flechas – a um preço muiiiito acessível, usando ferramentas da cozinha de qualquer casa – e poder se divertir, caçar e também se defender.
De acordo com o Jorge Wiendel – o JW – se alguém aponta-nos um revolver, ficamos imaginando/ esperando a oportunidade  de reação. Se alguém abre um arco em nossa direção, o arrepio é geral – pois certamente é um especialista.
Mas enfim – minha incursão pelo mundo dos arcos deve-se a minha teimosia e mania de conhecimento útil a sobrevivência. Num caso de catástrofe (muito factível por sinal) como poderia um vivente sobreviver? Que recursos disporia e que conhecimentos deveria ter?  Nesta linha, comecei minha pesquisa tentando provar aos amigos mais novos que é perfeitamente possível usando somente uma faca de caça, qualquer pessoa confeccionar um arco, algumas flechas e armadilhas – e assim sobreviver.
Mas – fabricar arcos primitivos (e outros) é uma coisa que não se deve começar – torna-se impossível parar dado o apaixonante universo que se descortina.
Eu confeccionei mais de 100 arcos, sofri mais de 100 frustrações e caras de bunda – alguns sobreviveram – o conhecimento se solidificou. Sem a paciência do JW, do Willian Maia Hunter, do prezado Claudio Moron (Argentina), do Carancho (Uruguai), de Don Paco (Espanha) e diversos outros amigos (virtuais e factuais) com quem troco idéias/experiências  nos fóruns especializados, jamais teria logrado êxito. A criatividade destas pessoas transcende o inimaginável.
Não sou arqueiro, a despeito de jogar flechas razoavelmente – sou aprendiz de ‘bowyer’ – ‘fazedor de arcos’.

Irei em seguida anexando meus trabalhos e experimentos, assim como as frustrações – talvez possa ser útil a alguém que esteja iniciando ou já mestre na arte.